sexta-feira, 22 de março de 2019

BRUMAS

Para a Desvale

A Lama clama
a dignidade dos homens.
Choram lama os frágeis olhos
dos homens de outro nome.

Abrigam-se os homens frios
sob montanhas de papel.
Papel-moeda, infame,
que lhes faz as vezes de céu.

Não lhes doem as mulheres,
os bichos, as crianças.
Não lhes dói que o resto de nós
viva apenas de esperança.

Seu bel prazer foi filtrado,
exportado, aplicado, depositado.
Dos restos do mal que fizeram
vamos morrer afogados.

Não se dão conta das contas que fazem,
que mais não fazem que se distrair.
Nada é só o que parece,
e nada termina aqui.

Ninguém desfaz impune
de outros seres, de seu valor.
Ninguém fica pra sempre imune
ao mal que perpetrou.

Não há escafandro que os poupe
da ceifa vã por mais grana.
Não há teoria, alvará,
nem nenhum filigrana.

Nada pode ser flexível
na prevenção do mal.
Quer seja mal privado,
quer seja mal estatal.

Nada de elevar a raposa
a vigia do galinheiro.
De se desfazer em parte
do que deve ser inteiro.

A lição é dura, amarga,
mas impõe-se este princípio:
o mal mais bem combatido
é o prevenido desde o início.

Nenhum comentário:

Postar um comentário