domingo, 2 de dezembro de 2018
TEZ OURO
Para Tom.
Registrar o menino vivo
no tabelionato.
Um momento significativo,
burocrático.
O atendente,
de insegurança burocrática,
pede que se lhe declare
tudo quanto se lhe apresenta.
(Não lidam com documentos?
Por que não lhes extraem a essência?)
"Tem que ser registrado e carimbado
se quiser voar".
E há de voar o menino Tom
com os pulmões que lhe vêm.
Com sua água aquecida pelo fogo da mãe,
e pelo do pai também.
Por rotas desconhecidas insufladas
pelas surpresas que lhe sobrevirão.
Mas pra botar o nome no mundo
precisa a chancela do Tabelião.
Dá uma fé troncha, documental,
à fé que ele já portava,
sujando sua fé tão própria
de certezas generalizadas.
Mas graças a Deus este pai
sabe o que é educação.
É ajudá-lo a ser-se,
não são coisas de formatação.
Meu filho, cubra o mundo
com tudo que lhe vai dentro.
Essa verdade que prescinde
de qualquer reconhecimento.
Uma verdade que só se declara
para outra assimilação.
Uma verdade inata,
não uma de carimbo e mata-borrão.
"Não digas nada, sê!",
e sê inteiro.
E esse será, talvez sem registro,
seu tesouro verdadeiro.
Recife, 22/11/2018. 4º Registro Civil do Recife, Boa Vista.
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