terça-feira, 13 de junho de 2017

SCRIPTOR

Quem escreve por necessidade
mas logo toma gosto
é tomado pelo medo de que a palavra lhe falte.

Medo de que nada o arrebate,
ou de que não lhe saiba dar expressão,
perdendo a chance do alívio.

O verso
(e também outras linhas)

é como um grito.
Dá eco à alegria,
dá fim a conflitos,
desvenda segredos,
ilumina a essência.
Protege do vazio
e nos alça à consciência.

E a consciência é um exercício.
Parece-me que seja algo que se pratique,
não algo que se seja.
Algo que desperta
mas às vezes boceja.

E se o sono é,
de certa forma e como já o disse,
uma morte interina,
a consciência  não resiste
ao que assim a elimina.

Mas se a morte é um transporte
o sono desdobra-se numa espécie de sorte,
numa forma de aprofundamento.
Ele é uma eternidade de diferente dimensão.

Cerram-se dois olhos
ou apenas olham para dentro,
como dizia o vovô Major.
Eu nem sei se se dava conta
da extensão do que dizia.

Dois olhos em compromisso
de olhar pra dentro,
e um terceiro, na testa,
bem aberto!

Abro-me pro manifesto:
nada termina onde tudo começa!


(CNF-JPA, 20/5/2017)
 

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