A noite cai, o sol se levanta, e eu rio! Eu, rio, corro para o mar! O mar é quente. O mar é qual gente: tudo questão de saber entrar. Que defendam que mar é tudo igual, vai-lhes doer. O certo é doar-se. Nesta quarta-feira o verde quer ser azul, elevar-se! O azul quer ser verde, aprofundar-se, eternizar-se em marulhos. As nuvens envolvem o horizonte de fora a fora, tarde adentro. São um convite para a maciez sabidamente salgada da espuma. É uma dica para quem a recolha: os matizes são mais delicados do que os veem os ditados. Eu já disse: E quem gosta de ditados?! A tarde é toda uma liberdade e, do meu jeito próprio mas já tão divulgado amo João Pessoa! E não nego nada, ainda que à tarde e sem testemunhas. João Pessoa só tem uma!, até que eu lhe volte. Anote: Até que eu lhe volte! João Pessoa, 24/5/2017
Quem escreve por necessidade mas logo toma gosto é tomado pelo medo de que a palavra lhe falte.
Medo de que nada o arrebate, ou de que não lhe saiba dar expressão, perdendo a chance do alívio.
O verso (e também outras linhas) é como um grito. Dá eco à alegria, dá fim a conflitos, desvenda segredos, ilumina a essência. Protege do vazio e nos alça à consciência.
E a consciência é um exercício. Parece-me que seja algo que se pratique, não algo que se seja. Algo que desperta mas às vezes boceja.
E se o sono é, de certa forma e como já o disse, uma morte interina, a consciência não resiste ao que assim a elimina.
Mas se a morte é um transporte o sono desdobra-se numa espécie de sorte, numa forma de aprofundamento. Ele é uma eternidade de diferente dimensão.
Cerram-se dois olhos ou apenas olham para dentro, como dizia o vovô Major. Eu nem sei se se dava conta da extensão do que dizia.
Dois olhos em compromisso de olhar pra dentro, e um terceiro, na testa, bem aberto!
Abro-me pro manifesto: nada termina onde tudo começa!
A mulher não é da costela. A mulher não é só do frevo. Há mais razões na mulher que qualquer razão que eu concebo. Foi preciso uma mulher pra que eu viesse a ser homem. E também devo à mulher se me chamam por meu nome. Diziam que o feminino era o coração, como se o coração fosse miragem. Mas esqueceram que o coração é o próprio centro da coragem. O filósofo disse, e disse como coisa patente, que o homem nasce livre e por toda parte depara correntes. Esse "homem" é o ser humano, pois foi sempre o mesmo com a mulher: Assim que nasceu, forte e livre, viu atarem-se-lhe os pés. Impôs-se a força bruta, a vantagem corporal. A um ponto de ser impuro estupro de sua moral. Mas o forte nunca é vencido. A coragem não se derruba. E onde houve pilhagem não tardou nascer a luta. Mulheres feitas mulheres. Mulheres de sua seita. Mulheres indignadas, e não apenas contrafeitas. Mulheres desejosas de assinarem seu contributo. E de superarem a indecorosa posição de apenas tributo. Porque tudo que pode "o homem", pode-o o ser humano. Também pode, portanto, a mulher, haurida do mesmo plano. E se há (e há!) diferenças, elas nos fazem complementares. As cooperações e concertos são medidas salutares. Mulher, seu nome é luta! Mulher, não se aflija! A todo tempo a labuta transmuta-se em conquista. Toda força à mulher! Toda força ao gênero humano! Da hora de subir até a hora de cair o pano!