domingo, 9 de março de 2025

PELA FALTA

O amargo para saber do doce,
o doce para saber do amargo.

Quem já não o tivesse sentido
poderia achar que eu tinha inventado.

sábado, 8 de março de 2025

UZBARULHIM

Ninguém foge aos conselhos da madrugada, 
despertos ou adormecidos.
Os conselhos da madrugada têm algo de intrometidos.

(Ainda para os abstêmios é como se houvessem bebido)

Nada parece pequeno, tudo se vê expandido.
Qualquer decisão que se avente parece selar o destino. 

Mas o dia raia sobre a loucura como raia sobre o siso. 
E sempre trará o querer ter ou não ter cometido.

quarta-feira, 5 de março de 2025

OU MARÇO

A conversa mais transcendente que se pode entreter
numa quarta-feira de cinzas é com divorciados.

Sabem que a ressurreição existe.
Tiveram a coragem de desfilar.
Enfrentaram o rigor milimétrico da apuração.
E recolheram-se, muitos, sem nem faixa de campeão.

Às vezes a euforia dura quatro dias por ano,
às vezes quatro anos
(às vezes é só enfermidade).

Mas transcendem.
Mesmo se o carnaval não foi uma escolha tão consciente.
Era bloco pra todo lado, aderir a um ou ser arrastado.
E tomem serpentinas e buquês e muitos figurantes,
de abadá ou "enternados".

Depois que passa parece um sonho,
ou talvez até pesadelo.
Não sabem se "nunca mais!"
ou "nos vemos em fevereiro!"

segunda-feira, 3 de março de 2025

POR FAZER

As madrugadas dos feriados parecem blindadas
contra até a passagem do tempo.
E têm  um fermento distinto,
como se delas pudessem nascer poemas,
problemas, vergonhas ou projetos vitoriosos.

Mas madrugadas é que são os tempos faustosos!

Nada me alcança.
Nada me atormenta.
A campainha não soa.
A companhia repousa.

O mundo está onde pertencente: lá.
E mesmo lá posso buscá-lo, num passo,
como me convenha.

Ser criador é uma ótima ideia,
embora seja velha.

É um poder irresistível;
os personagens nascem e morrem
(conforme saiam dos trilhos).

Criar é liberdade,
e liberdade, um perigo!
Então deponho a caneta
(como ora convém ao livre-arbítrio)

domingo, 2 de março de 2025

SOPRA

É uma vela que por mais que se sopra
não se apaga.
Porque de um velório sem morta
ou de festa sem a convidada.

Não se apaga e se não se apaga
não se realizam os desejos.
(Talvez porque sejam os ecos
de já tão apagados festejos).

Alegrias em que... ainda se vive?
Resta a questão filosófica pura:
a espera é sobrevida
ou é morte prematura?

sábado, 1 de março de 2025

É POSSÍVEL

A página completamente branca
é o infinito das possiblidades. 

E precisar de pauta ou formulário,
um diagnóstico de banalidade.