segunda-feira, 19 de maio de 2025

À VONTADE

Há muito temos sabido que navegar é preciso
e viver, não
(embora sejam ambos necessários).

Saibamos que, sim, é arriscado,
e que riscos muitas vezes se consumam
(sem nos consumirem, por força).

A deriva é uma possibilidade,
mas muitos se resgatam da deriva.

E para uma vida de proveitos que só alcançam
os que estiveram para perdê-la, para perdê-los.

Para quem sobrepôs-se ao medo,
mesmo que pelo acidental concurso alheio.

Falha a bússola como falha o astrolábio,
ou orientação de outra base.

Só não se deixe estar falto de vontade.

sábado, 17 de maio de 2025

DIGNA-TE

Abre as janelas do quarto.
Niguém te deu a asfixia por missão.
Para o que não mereça respirar,
aquela serventia da casa.

Despeja o que de inútil te ocupa as gavetas.
A outros servirá.
Aí de há muito virou invasão.

Retoma a posse de ti
antes que o tempo venha consagrar o erro,
endireitá-lo, torná-lo solene.

De que te vale o silêncio?
A vida segue infrene e renuncias
a lhe dar sentido (nesta direção fixada).

A liberdade não é lá tanta,
mas se se renuncia desnatura em servidão.

Não reclames que o tempo corre,
porque já quando parar não haverá que fazer.

sábado, 10 de maio de 2025

AGOSTO AGOSTO AGOSTO AGOSTO

Um tupi tornado limoeiro, iluminado por Ponciano Coelho e por Nossa Senhora da Apresentação tornado artista.

Brota a vida, à vida leva. E da vida outras levas, todas leoninas.

América, Bélgica, Pádua, Belo Horizonte.  Tudo Gerais de que tudo mina.

O pretérito não se afirma, adivinha-se (mas não se confirma).

É bom aprender com os erros alheios. Quantas vezes são os nossos! Sejamos lá os que formos.


quarta-feira, 7 de maio de 2025

UM ACONTECIMENTO

Conforme o Nogueira grande,
belo é o rio de que sou navegante.

Não é o da tela.
Não é o dela.
Não é o de lá.

O rio só me integra se o puder singrar.
O rio imenso, mais que o penso.
são águas que experiencio.

Às vezes me lavam.
Às vezes me tragam.
Sempre se me oferecem.

Aquelas mais belas águas
em que tudo acontece.

domingo, 4 de maio de 2025

À SOMBRA

Não me integra
e no entanto pode ser desintegrada.

Quem só vê a minha sombra
não verá nada.

sábado, 3 de maio de 2025

POSTO

Senhor, dá-me a castidade,
agora!

Isto é idade em que nada aflora.
E o que insiste em estar brotado
feneceu e não se dá conta.

A hora tarda, o Sol aponta.
A  pretensão  desarrazoada presta contas.

Senhor,
tudo foi fraqueza.
Nada foi afronta!