sábado, 23 de setembro de 2023

REPETIÇÕES

Assististe inerte ao meu afogamento;
ignoraste o meu aceno e deste-me as costas
em vez do lenço.

Fui mais feliz antes de conhecer a fome,
de aprender a saciar-me.
O amor foi o maior azar que veio felicitar-me.

Os sonhos não têm substância,
e por isso nada os desfaz.
A realidade já tem,
e transubstancia-se.

Faz-se nada.
Faz-se quadros na parede.
Faz-se a lembrança estranha
que só é real às vezes.

Outras vezes me pergunto o que seria
se eu fosse meu próprio roteirista.
Garanto que bem melhor do que ser meu próprio cronista.

Isso que tenho feito sempre,
com olhar atento sobre o que a ninguém interessa.
Ninguém tem tempo (só pressa).

Os dias correm, mas não saem do lugar.
Estão lá, sempre os mesmos, quando olhamos para trás.
Mas olhar é escolha, ver é consequência.
É uma constatação que dispensa muita ciência.

A madrugada vai longa,
e eu em nada me elevo.
Toma o tempo que já não tenho
o exercício que aqui encerro.

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