quarta-feira, 8 de março de 2017

MINHA MÃE (Uma mulher)



Minha mãe era tímida.
Ou era "tímida nada!"
Ou talvez, como se disse Clarice,
fosse de uma timidez arrojada.

Minha mãe ia adiante
(era em tudo muito adiantada).
Minha mãe, no susto do encontro,
enchia a timidez de palavras.

Minha mãe era cética,
não tinha a certeza de Jesus.
Talvez, naturalmente ética,
pudesse prescindir da cruz.

Não estava certa nem de Tiradentes,
que dirá de Sócrates!
Platão podia tê-lo inventado
(que filosófica sorte!)

Minha mãe era grande leitora,
obras pequenas e grandes.
Até a menor grande obra:
era leitora de homens.

Até de seu pequeno filho,
rebelado contra a lucidez.
Minha euforia, meu enfado,
tudo via com nitidez.

Minha mãe era Flor que se cheirasse,
flor de nos deixarmos entranhar.
Se não entranhasse o cigarro
o câncer não a ia apagar.

Mas fica o lindo exemplo
do bem-viver a bem.
Essa é a vida mais plena,
pouco importa vivida com quem!

Minha mãe é daqui e de Galápagos.
Da África, França, Ásia.
Só me cobre a esperança,
nunca me cobriu a mortalha.

Seja-se!
E será verdade!
Ainda bem que esse exemplo eu colhi,
antes que fosse tarde!

Nenhum comentário:

Postar um comentário