quarta-feira, 1 de outubro de 2025

AOS COSTUMES DISSE... (2)

Encho o filtro
com água do filtro
e não purifico nada.

O juízo não vive em minha casa.
Dizem ser medida profilática anti-condenação.
Dizem-no e me condenam de antemão.

Não apelo.
Não conhece de mim a instância superior.
Nem de minhas preliminares.
Nem de meus fundamentos.

Pareço-me livre,
mas sou detento.

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

VALSA

Meus olhos são represas
em cujas redondezas
ninguém se atreve a viver.

Nem os já afogados,
nem os que, de tão sedentos,
acreditam que beberiam o mar.

Meus olhos são represas
cuja segurança eu não meço,
não atesto,
não desafio.

Meu coração é um prédio em ruínas
em que ninguém se abriga.
Nem os flagelados da seca.
Nem os flagelados da chuva.

Ainda menos os flagelados
que nunca ousaram correr perigo.

Meu coração não tem estrutura,
mas se abala.
Meu coração não tem sutura,
sua cura é criar asas.

(E a esta hora o ar me falta;
os pulmões já não dançam esta valsa).

domingo, 28 de setembro de 2025

APONTE

Nunca ninguém antes
nem tampouco depois,
quando faz-se tarde.

Por isso todo ciúme
é mero alarde.
Já ninguém mais cabe
neste que me bombeia.

Nada importa a lua cheia.
Nada importa o sol a pino.
Não importa o ambiente marítimo,
a praia,
o cais,
a ponte,

Só me traz o horizonte
aquilo pra que tenho olhos:
os seus que, meus, me olham
sem jamais me entender.

Ainda bem que a vida é eterna.
Ainda bem que amor não cansa.
Ainda bem que um verde lume
é um farol da esperança.