O leite,
nutriente,
não serve como água.
O leite não me limpa,
no leite não se nada.
O leite,
ingrediente,
não é matriz.
O leite não está lá
antes do que Deus diz.
O leite está
porque a água quis.
O leite,
nutriente,
não serve como água.
O leite não me limpa,
no leite não se nada.
O leite,
ingrediente,
não é matriz.
O leite não está lá
antes do que Deus diz.
O leite está
porque a água quis.
Também a água derramada está perdida
Porque derramada poluída
E se sobre ela só se chora
Pouco se salga
Nada se limpa.
Formulara-lhe proposta arrevesada;
não queria recebê-la
e custava-lhe recusá-la.
A vida pode ser divertida
sobre ser trágica.
A inspiração tarda e falha.
A copa farfalha sem frutos.
Nada revela a Newton lei alguma.
Mas os estudantes de Letras precisam
estudar a escritura.
A poiesis e a não poiesis.
E eu lhes sirvo de tédio.
Para quem se ressente
o amor não se sente no plural.
Amores se assentem
no pretérito, sequentes.
Aos havidos, se pouco,
o calabouço.
Na censura,
a sepultura.
Dos amores nada se pode saber,
nada recordar.
Mas os amores são como os mártires
que em se matando só se podem avivar.
Escada
Rampa
Teleférico
Nenhum meio revela o mistério
da ascensão à queda.
Porque, na matéria,
a ascensão é à queda.
Rei morto, rei posto.
A ciranda é cega,
mas a dança dá-se.
Rei posto, rei morto.
Era o neto ou o avô o zigoto?
Era o pai ou o filho o cádaver?
Tem bem pouca raiz
e parece árvore.
Seus parâmetros amesquinham minha vida.
A minha vinha.
O meu suco puro, que nunca será vinho de rótulos campeões.
Minha mesa farta de pães e livre de brioches.
Não estou falto de nada.
Nem de quem me aprove.
Para quem teu dom é sintoma
não oferece tuas pérolas.
Deliram que pertencem ao que não existe.
Fecham a porta para que a loucura não entre.
Concentram-se em sua sanidade a fim de perpetuá-la,
mas esse próprio delírio demonstra a carência de criá-la.
Identificam-se com um mito;
separam 6 de meia dúzia,
chico de Francisco (ou se adornam em Pacos).
Abrem mão do mistério para criar curiosidades.
É uma postura
(e covarde!)
Tantos passos quanto inventem as pernas,
a vida tem a urgência que lhe dermos.
Há passos em falso
e passos mais meritórios.
E há peças que caem
e outras ficam no repertório.