terça-feira, 14 de março de 2023

F#

 O pai da moça (como minha mãe o chamava) dizia que, pra cada carta de amor escrita, uma se queimava. E quem não as queima acumula.

Mas a carta de amor real só se escreve sobre base nula. Não se erige sobre nenhuma, ou é sua própria deturpação.

O amor quando bate tudo a si reclama. Tudo é sua cama, mas cama só sua. O amor que tal não é avenida mas rua, ou é estrada vicinal.

Essa noção não vem de fábrica mas se aprende. O amor é paciente. Tem de ser! O amor sempre empreende.

O amor inventa o mundo. Inventa-o todo, mas segue sendo terra, mesmo se se sente o céu.

Mesmo se seu signo é o fogo, se queima delicioso, se consome sem exaurir.

E porque é terra o amor também erra; porque equívoco e porque vagueia. (O sangue não "errou de veia e se perdeu"?)

Mas e o amor "ainda"? E o amor "de novo"? É também a alegria do povo? Segundo tempo, prorrogação? 

Mais e mais esforços rumo à taça, o amor procura mas não acha, nem nunca dá a coisa por finda.

O amor que não joga a toalha ensina que as coisas infinitas, essas mais que "muito mais que lindas", essas nos salvarão. 

Recife, 13/3/23


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