O pai da moça (como minha mãe o chamava) dizia que, pra cada carta de amor escrita, uma se queimava. E quem não as queima acumula.
Mas a carta de amor real só se escreve sobre base nula. Não se erige sobre nenhuma, ou é sua própria deturpação.
O amor quando bate tudo a si reclama. Tudo é sua cama, mas cama só sua. O amor que tal não é avenida mas rua, ou é estrada vicinal.
Essa noção não vem de fábrica mas se aprende. O amor é paciente. Tem de ser! O amor sempre empreende.
O amor inventa o mundo. Inventa-o todo, mas segue sendo terra, mesmo se se sente o céu.
Mesmo se seu signo é o fogo, se queima delicioso, se consome sem exaurir.
E porque é terra o amor também erra; porque equívoco e porque vagueia. (O sangue não "errou de veia e se perdeu"?)
Mas e o amor "ainda"? E o amor "de novo"? É também a alegria do povo? Segundo tempo, prorrogação?
Mais e mais esforços rumo à taça, o amor procura mas não acha, nem nunca dá a coisa por finda.
O amor que não joga a toalha ensina que as coisas infinitas, essas mais que "muito mais que lindas", essas nos salvarão.
Recife, 13/3/23
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