sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

SOUDCLOUD

Interrompemos a programação normal apenas para lembra-vos que tudo o que vai sendo postado aqui (e, portanto, na página do Facebook) também vai sendo postado, em áudio, na SoundCloud, onde consto como Gabriel Nogueira Maia.

https://soundcloud.com/user-580381287

725. ENXADRISTA

A vida prega peças
que não sabemos manejar.
Falta o talento do enxadrista:
refletir, planejar.

Às vezes nos atropelam fatos,
multiplicam-se distrações.
Cada um tem seu passo
e o caos da multidão.

Tantas possibilidades!
Tanta conjugação se oferece!
É difícil em qualquer idade,
uma espécie de continuado teste.

E é de fato!
E é como se aprende a arte da vida.
"Até com os erros dos outros!",
disse o anjo da Paraíba.

Prestar atenção.
Retificar, absorver.
Sem nunca julgar as falhas
de quem possa estar pra trás de você.

A vida é uma escola solta,
as séries todas misturadas.
A cada um segundo suas escolhas,
mas nunca o que se colhe é nada.

No mínimo o prejuízo
de a nada ter-se lançado.
Que é o mesmo de não ter vivido,
de ter-se mesmo assassinado.

Não faça ouvidos moucos,
não deixe os olhos fechados.
Esforce-se ao menos um pouco,
a força está do seu lado!

O lado luminoso da força,
o radiante bem!
Comprometa-se, íntegro,
e verá que nada o detém!

724. ME ATREVO

Com que conhecimentos me engano?
Quem precisa saber o que é o escafandro?
Muitos não sabemos nem do que feitos.
Muitos não somos sujeitos.

Muitos só estamos sujeitos
ao que nos maltrate e conserve.
Alguns embebidos em vinagre,
outros como se dados aos vermes.

Que mosca me veio da sopa do inerme?
Que bicho talhou meu vinho?
Por favor me liberte ou me interne
o seu mais terno carinho.

Não é um tempo confuso.
Quero praticar a fusão.
Que me venha a matéria de Pernambuco.
(É o que me pede o coração)

Ideia fixa os modos de frevo,
porque não existe alegria pouca!
Alegria é fevereira!
De cantar até ficar rouca!

Dançar até enfraquecer-se
e procurar uma cadeira.
E atear fogo em meu interesse,
em reação em cadeia.

Reações tão fortes!
Relações tão intrincadas!
Não sei se dão prova de sorte
ou de coisa predestinada.

Não sei do que lhes falo tanto..
Eu que nunca sei de nada...

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

SORTÃO (Une sorte de)

Te amo imenso, meu bem!
E à sorte grande que a gente tem.
As vidas sendo tantas e tão largas
não foi pouca coisa achá-la!

Nem receber você a mim!
As vidas mais bonitas
são as repletas de carinho.

Por isso é de se brindar a esse saca-rolhas
que abre a tampa do coração,
que se verte sem escolha.

Estes recipientes que viemos,
plenos do mais belo conteúdo,
não viemos pra que voltemos os mesmos,
tendo vivido atrás de escudos.

Escondidos não se vive,
viver é lançar-se!
Ah, que me lançava agora
a essa terra para alcançar-te!

DURA REALIDADE (Capitalismo Selvagem)

Te dou cartão verde, babe!
Carta branca!
Vem com essa fúria e me desbanca!

de ter sono
e me impõe o que eu,
se dono,
lhe imporia de bom grado!

(Bom grado ladino,
te olhando de soslaio.)

E a mão de frente
e ele, meu sócio,
bem rente!

Rente, 
que quente rende mais!
É a dura realidade!
(Esse capitalismo me atrai...)

Sou corporativista,
ativista do corpo.
Sou CEO das coisas celestes.
(Me coube esse pouco!)

As ações que sobem e descem
com mais desenvoltura
são as minhas mãos te pegando.
(Pegando-te pela cintura...)

Dessa dança não me furto,
mesmo sendo pé duro.
Esse talento me alcança,
esse na infância obscuro.

Gabriel, anjo do xote!
Do arrocha, do baião.
Tudo que o leito comporte!
Concede-me a dança...e a mão?

domingo, 18 de fevereiro de 2018

APURO (Heranças)

Como música e cuspo literatura.
Poucos entendem a tessitura
deste que vos falo.

Não importa!
Não estou pra ser entendido,
estou pra ser praticado.

Pra ser repetido
por parques e praças
sem nunca ser citado.

Porque um caminho foi-me dado,
o de imitar o melhor.
Missão muito doce!

(E também muito só...)

Mas sou doce,
ainda quando sou duro.
Nunca perco a ternura!

(é o que apuro!)

Faço a vida no dia a dia,
pois ninguém a adianta,
ninguém a adia.

A ninguém aproveita adiantá-la!
Se ruim, é suportá-la!
Celebrá-la sempre que boa.

A vida é seu maior dom,
e não lhe foi dado à toa.
(Acredite no que a entoa!)

O que sei foi herdado.
"Eu não sou ator,
eu não tô à toa do teu lado".

sábado, 17 de fevereiro de 2018

SILÊNCIO ELOQUENTE

A musa cansou de ser cantada.
Escrever-lhe não me valeu nada!
Gosta de mais movimento
(o do lápis é-lhe muito lento...)

Sou ágil de boca;
que palavra afoita a do homem loquaz!
Mas minha lentidão gráfica
não é garantia de paz.

Ela gosta de baile,
e não tenho jogo de cintura.
ÀS vezes não sei ser suave,
porque sofro o sequestro da fúria.

Prefiro vitimá-la de rapto,
que é infração mais gostosa.
Em meu tempo integrava-lhe o tipo
o ser conduta libidinosa.

Mas claro que só quero  com consenso!
Esse é o verdadeiro concurso!
O que me dá quando me joga o lenço,
não o que se faz pra ser tribuno.

Moça morena, que silêncio é esse
com que fustiga este rapaz?
Será que me aplicou essa pena
pelo crime de cantar demais?

O amor não tem medida!
Me socorra, Santo Agostinho!
Não quero me conformar ao golpe
de já não ser seu melhor destino.

NAVAL



Recife, 11/2/2018.

    O Mercado da Boa Vista, na manhã de domingo de carnaval, deixa aflita de ativa minha alma de cronista. Tantas cores se desfilam, tanta tradição encartada nos anos dos foliões! Tanta saudade vaza junto com o gozo do momento! Sinto o carnaval protegido de tudo que lhe quer puxar o tapete. O novo e o velho estão num acordo terno de defesa do que é imortal.

    O resto de mim vai a Olinda pra que me seja mostrado o que é feito dela no carnaval. Uma imensa zona franca! Na 13 de maio todos podem se passar, mas ninguém passa! A fricção é a regra da casa, o choque, inevitável. Dois corpos ocupam o mesmo lugar no espaço (Talvez ocupem-no três!). Um tem o susto da novidade, outro a habilidade do freguês. Não consigo calcular que riscos corro, mas não deixo de me divertir. Penso que é muita sorte, já que sempre quis estar aqui, nesta vila linda, na folia, no que se diz a capital do Nordeste, já que a Bahia é um país. 

    Pernambuco é mais do que se quis! Porque nunca previ a arruaça de mim. No Brasil não há raças, são todos navegantes daqui! E o carnaval é a hora de cada um se servir do país.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

ABRE ALAS (Marco Zero)

Recife, 9/2/2018

Do Cais Santa Rita
ao olho grande do Marco Zero!
Recife, há quanto espero
conhecer seu carnaval!

Olho grande que tudo traga,
desde que nos traga paz!
A paz ruidosa e colorida
de saber brincar demais!

Alceu e Geraldo,
embaixadores de Pernambuco
pelos quatro cantos do mundo!
Nena Queiroga,
mestra dos bons fomentos,
cedendo fatia de tempo
ao milagre percussivo
dos batuqueiros do silêncio!

De Lenine peguei velha pergunta no ar
para esclarecer que não há crime.
Não houve crime algum
em resistir aos tempos de Holanda!
Ou em ter engendrado ciranda
no modo convulso do frevo.

Nem em ter dado frevo ao passo
e o passo ao frevo.
Gravando, neste que passo,
seu arco-íris-flâmula tão fevereiro!

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

À PAZ (Ciúme)

Tenho a paz,
mas sabe se fazer buliçosa.
É meu talento de última hora,
contra a mão da evolução.

Olhar pra trás nunca foi maior atraso!
Um passado duramente remarcado
na pele de quem não o viveu,
e foi autora de outras alegrias.

A paz se s'aquece me esfria,
frieza cadavérica,
da morte da antiga alforria.

Paz, eu vou no seu encalço
pra fazermos melhor negócio,
de que a escravidão não se ria.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

EMBLEMA

Morena,
você é o emblema da minha distração!
Quando seu sorriso assoma,
quer o imagine,
quer seja o fotograma,
já de nada sei!

Esqueço o que queria.
Esqueço o que pensei.
Só penso em cobrir as distâncias
que por você percorreria.

Pode ser que você ria
ouvindo esta confissão,
que de tão banal chega a ser tola,
mas se veste de poesia.

Porque tenho a estranha mania
de querer fazer de tudo verso.
Ocorrem-me se me confesso,
ocorrem-me para a alegria.

Curam-me as tristezas,
poupam-me da apatia.
E fazem-me adivinhar
o que por si se nutria.

Mas já não quero estes versos!
Quero te ver chegar!
Quero poder te cheirar
e afagar seus cabelos.

Quero por uma semana
feita de dias inteiros!
Formados por horas sem fim,
recheadas de desejos!

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

COGITO ERGO SUM PAULO

São Paulo é uma ilha
que contém o arquipélago.
São Paulo me humilha
se por aqui me pego
entregue à velha mania
de achar que o brilho é meu.

São Paulo, quem com você se mede
não sabe que já morreu.
Pois se toda a vida está aqui,
se aqui por toda parte pulsa,
é claro que não está em mim,
como já não está a repulsa.

O que importa se seu sotaque
não é o da gaúcha?
Toda capital é o porto certo
se me ancoro com alegria.
Que bela terra a da garoa!
Mesmo se Poa é mais fria...

Não está escrita no mar.
Não são belos seus horizontes.
Mas só de de tudo se achar,
só porque nada se esconde,
é o bastante pra justificar
que lhe venhamos não importa de onde.

Tudo para aqui se atrai,
como se capital do mundo.
Vem-se para sofrer,
para ser marginalizado.
E dar-lhe novos ares,
dos em outras paróquias batizados.

Venho para desvairar!
Chover no meu já tão molhado!
Eu, que estiolo de mim,
quero estiolar sob seu mau olhado,
que amaldiçoa meu mineirês,
como se vindo do roçado.

Mas os roçados são todos bons,
mandam-lhe os alimentos.
Nenhum gigante se sustenta
se não lhe dão seus suprimentos.
(Todo carretão não prescinde de pavimento...)

Tudo de farto e grande
já foi pequeno e sedento.
Lembra dos Jesuítas?
Lembra de seu nobre Nóbrega?
Lembra de Anchieta,
que o tempo encobre e recobra?

São Paulo, não sei te cantar!
Pra tanto a voz não me chega!
Sempre fujo depois da visita,
pra ver se tudo se me ajeita.
Sou poeta diminuto,
não me cabem imensidões.

(Salvo imensidões mundiais,

como o Sertão de Guimarães...)

Tantos Andrades me habitam,
não sei por que não os grito.
Nem ao de Baependi,
que podia ser meu primo.
(Pelo menos sua galhofa
eu sei que é parte de mim...)

São Paulo, este poeta não te importa,
mas te importa pra si!

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

ESCURA

Me acusa com injustiça!
Não quero matá-la,
quero que viva!

Quero que se imbua 
muito, disso que é a vida!
Tanto a ponto de cuspi-la.
Cuspi-la a todos!

(que é reparti-la!)

Por que alvejado por isso
que de tão óbvio é tão claro?

Por que tanto me encantar
do preto, do moreno, do escuro?
Disso tudo que lembra a noite e sua abrangência,
que é um apuro!

Bem urdido e inevitável,
meu desejo é incansável
nas valências de Valença,
que antes soube o segredo
e soprou-me a sentença:

Não cansa.
Não para.
É moto contínuo,
e é de minha lavra

esta confissão na madrugada,
que aqui assino e alvejo a noite
de só escura em estrelada.

Do que mais gostaria
era de alcançá-la!