Minha mãe, insone,
gozava a abertura 24 horas de estabelecimentos.
Os que não visitava sequer durante o dia.
A só possibilidade a encantava.
De mais a mais não dirigia.
De menos a menos jamais confiaria no nosso transporte público
a desoras, em nossa cidade insegura.
Como ela diante da noite eu diante da vida.
A só possibilidade de tanto acontecimento me preenche.
Sou grato porque ela existe.
Sou grato porque exista.
Agradeço, mas do fundo do peito,
por este livre-arbítrio que não sei levar aos cimos.
Nem aos dos inócuos materialistas do mundo,
nem aos dos Franciscos de Jesus,
em Assis, em Pedro Leopoldo, ou em uma Roma menos dourada e mais argêntea.
Sim, existe!
Morrerei afirmando-o.
Nem precisava ter fé maior que a tinha Tomé porque vi:
Mesmo diante da perseguição da fera ao abismo se escolhe
morrer da queda ou mordido.
Mesmo o trem sendo imposto e o vagão não sendo escolhido,
escolhe-se a viagem em pé ou atado em cinto.
Toco-as.
Minhas chagas são voluntárias.
Fiz mais escolhas, eu e vocês,
do que admitiríamos.
Mesmo do ponto de vista míope de só esta existência.
Mas até aquele livro ruim, daquele autor canhestro,
teve mais de uma encadernação e vendeu-se em euros.
Imagina você, que não escorreu ao papel de uma pena débil,
mas se criou pela vontade de uma Força incompreensível!
Exerça-se, vai!
É o mínimo!
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