Ainda que, no desejado revés,
a língua portuguesa fosse a única
a ignorar o vocábulo "saudade",
nenhum de nós haveria de livrar-se solto.
Apenas sofreríamos o inominável,
na angústia da frustração de comunicá-lo,
de pedir ajuda, de compreender.
Cada um nomeando a sua maneira
a consequência inevitável do erro,
do desmazelo, de uma sequência de escolhas infelizes.
Sofreríamos, e a nossa pérola viria
sob a forma de um neologismo redentor,
cada um de nós mãe ou pai da língua,
poeta, criador.
Então nos expressaríamos e enviaríamos aos incautos
fraterno bilhete que os fizesse pressentir o dano,
que os induzisse à cautela, ao cultivo, à jardinagem.
E só assim aquele belo pássaro cantaria
de tal arte que o pudéssemos ouvir.
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