segunda-feira, 22 de julho de 2024

SATÉLITE

A lua hoje está de provocar sinistros!
Ando distraído para te esbarrar. 

Eu estou.
Você parece não estar.
Estou na velocidade certa para divagar.

Vagar não é escolha,
é sina.
Já nem soa a campainha que nunca mandei instalar.

As pessoas correm muito.
Não sei onde querem chegar.
Eu já faço uma vaga ideia.
Por isso distraído (mas devagar).

quinta-feira, 4 de julho de 2024

ENQUANTO

Ninguém dá-se ao trabalho de dar-se ao trabalho.
Sobrexcitam a imaginação e chamam-no esperança.
E, no entanto,
o dia que amahece não tolera essa infância. 

Os fatos apresentam-se brutos.
Quando parece haver paz,
é só ausência de tumulto.
De sobressalto,
de conteúdo.

Um vazio expande-se,
sobretudo.
Não se acorda nem se morre,
sonha-se.

O movimento estanca.
O filme vira foto.
Desfaz-se o foco.

Estou cego 
ou isto é enfim tudo?

terça-feira, 2 de julho de 2024

NEUTRO (domínio público)

Era neutro. Não se expressava, não interferia, não se posicionava, não sabia.

Dormiu, acordou em cima de um muro. Era largo, confortável.

Viu embaixo, de um lado, anjinhos esfuziantes que lhe acenavam perseverantes, convidando-o a descer para junto deles. 

Do outro lado capetinhas impassíveis o olhavam de braços cruzados. 

Estranhando o fato, perguntou a um deles:

- Não vão tentar me convencer a descer para o seu lado?

Sem esboçar emoção, o capetinha respondeu:

- O muro já é nosso.