quinta-feira, 13 de junho de 2024

PERCURSO

A escrita poética sincera
é de exercício frustro.
Como um grito praticado no escuro
sem real desesperação.

Esse exercício é cinema estático,
mudo ou falado.
É como canção só compasso,
sem melodia ou inspiração.

É um interior sem âmago.
É um bioma só pântano,
casa só assombração.

Nada se faz sem o assombrado.
Não se nada sem nado
(e ainda esperamos tradução).

quarta-feira, 12 de junho de 2024

PERFEITO

Ando pelas mesmas ruas
quando os dias são oe mesmos;
nem são-joões, nem fevereiros.
Nem procuro nem vejo.

Você pervaga.
Perfaz caminhos insuspeitos.
Não ouve convites,
não aceita pleitos.

Só o desencontro sabe ser perfeito.

sábado, 1 de junho de 2024

PROMONTÓRIOS E ALMADILHAS

Algumas impressões não se dão,
só se permutam.
Assim as das coisas que tocaram fundo,
nos ensinaram, redefiniram.

Porque essas só aos recomeçados,
iniciados, 
entristecidos.

Essas só aos que se assombraram
(mesmo se esquecidos).

As coisas fundas,
em que se amorteceram as angústias.
As coisas claras,
que derrubaram as escamas dos olhos.

As estradas de Damasco,
tão caras aos renascidos.
As praças do interior,
que abrigam os inúmeros primos.