domingo, 2 de abril de 2023

NÃO SE TOCAM

Aos suicidas não se tocam os sinos.
A menos que tenham matado a própria alegria e continuado a sorrir.
A menos que tenham matado a própria luz e sigam tateando.
A menos que tenham matado a própria língua e sigam falando esperanto, em um salão sem melodias e sem cantos.
 

Aos suicidas não se tocam os sinos, mas o tango argentino pode ajudar.
Bem mais que um blues, como disse o Zaratrusta à mão.
E os roqueiros seguem fazendo a revolução desencarnada,
mais velhos do que matar Cristo nas cruzadas.

Aos suicidas não se tocam os sinos porque não podem entender a alegria alcoolica, pela muito simples razão de que ela não existe.
Ela é uma prótese, mas uma prótese que só engana os sentidos dos que também a usam.

Aos suicidas não se tocam os sinos porque estão fartos. 
Envenenados, em queda livre, enforcados, e não têm pulsos.

Aos suicidas não se tocam os sinos porque sinos estão em desuso.

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