sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

DEJANEIRO

Acabou janeiro, sem pedidos de prorrogação.
E muitos até lamentavam a sua extensão.

Ô mês quente!
Tão quente que impulsiona.
E de modorra
(tanta que estanca).

O céu desaba obrigado pela estação.
O céu desaba porque não é habitação.

Há quem veja em janeiro o posfácio do Natal.
Também há quem veja nele o prelúdio do carnaval. 

Neste ano não tem função:
o carnaval é em março, e o prelúdio, em fevereiro.
Restou-lhe ser interlúdio 

(passageiro).

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

MUNDARAÇO (ab portus)

Navios naufragam  e o mar segue lindo.
E os portos não ficam mais interessantes por isso.

Os portos são o necessário abrigo,
o refazimento.
Sua excitação mora na espera.

Dos portos se parte. 
Esses ventos favoráveis ainda nos levam a Marte;
nos levam a Vênus.

Praza a Deus que os portos não nos faltem,
nem neles nos demoremos.

Nenhum medo pode ser tão grande
que faça o mundo pequeno.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

ESSE POUCO

Quem tem medo da própria altura não cai.
E não cai porque rasteja.
Não vê a copa que viceja
e nem por isso vê raiz.

Quem tem medo da própria altura
decretrou que será infeliz.
Não consegue porque não tenta.
Não soluciona porque não inventa.

Quem tem medo da própria altura
está em prisão de insegurança máxima.
Confunde coragem com empáfia.
Não procura e tampouco acha.

Falta entender-se e estender-se.
Conquistar a dimensão, habitar essa altura.
Uma voz que o repercuta.
(É preciso esse pouco de loucura).

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

MADRUGADA

Cai a noite na razão
e o dia não raia sobre o juízo.
Nada parece sob controle
neste mecanismo.

A madrugada não é alta
nem se rebaixa.
Tudo é solto nesta engrenagem
(como se feita de graxa).

Os olhos não veem,
mas parecem ouvir.
Como se fossem de lá,
embora estejam aqui.

Nada se remete,
nem há quem o receba.
Como se não houvesse em mim
quem o perceba.

São coisas de sonho,
mas sem categorias de inconsciente.
Nada se entende
(mas tudo se sente).

sábado, 25 de janeiro de 2025

NA BANHEIRA (12)

Mundos colidem.
E se colidem, explodem.
E se explodem, há luz?

Quero luz.
Tenho luz nos olhos.
Que sejam bons!

Meus olhos estão com você.
Deles vejo a paisagem,
e é por eles também que se entra.

Não digo porque os brilho:
Você está convidada.
Não sou vampiro de capa 
e me antecipo ao convite pressentido.

Eis que estou à porta e bato;
sou esse outro senhor.
Esta vida não pode ser eterna,
mas pode ser eterno o amor.

É o que de melhor se pode fazer dela:
Bela!...e de amor.

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

SENTIDOS (12)

Velejo, vejo, desejo
e espero.
Há terra à vista 
neste hemisfério.

Vejo passarem paralelos
e meridianos.
Sem nomeá-los ou numerá-los
eles vão me acompanhando.

Não estou sozinho
nem habito o sonho.
Tem cheiro e textura
o que estou experimentando.

É um afago, um abraço,
um ardor.
É expansão, dilatação,
é calor.

Então sinto bem
o bem que isso faz.
Nunca fez menos sentido
voltar atrás.

domingo, 19 de janeiro de 2025

SOBERANA (12)

Um apocalipse é sempre o anúncio
de grandes acontecimentos.
E podem ser maravilhosos
pra quem sabe olhar o advento.

O que risca o céu.
O que convulsiona o mar.
E traz estrelas aos olhos
só de aportar.

O que coroa a mudança.
Remunera a boa espera.
O que faz da Terra
muito mais que a Terra.

O que encurta distâncias
e não acontece em tempo real.
O que tem marcha própria
(sobrenatural?)

Não sabia pelo que esperava,
o tempo é de compreensão.
Este Tempo não tem pressa.
É tempo de construção.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

ACESO (12)

O dia há muito apagou-se
(como, aliás, lhe compete).
Eis que a noite me acende:

- Reflete!

Já contei 99 ovelhas
e até fui atrás da perdida,
que me olhou com desdém
(estava de saída...)

Não tem chá.
Não tem melatonina.
(Mas tem hora que parece mesmo
que o Universo encaminha.)


domingo, 12 de janeiro de 2025

MOBÍLIA

Não vi do que tinha vivido,
ou talvez tivesse sonhado.
Talvez o taxidermista
me tivesse operado.

Tudo se movia
e eu ali,
parado.

Sem eixo.
Sem rotação.
Sem traslado.

Um objeto móvel
e contudo fixado.

Parado no tempo,
no intento,
no tramado.

sábado, 11 de janeiro de 2025

BATUTA

A vida é breve, breve!
Como cortei tanto o cabelo
e fiz tão pouca greve?

A vida é um instante;
tenho tempo para sorrir,
mas não para reenovelar o barbante.

A vida é tão rápida!
E é muita pulsação
para ter a cara pálida.

A vida urge, escuta!
Vez ou outra haverá tempo
de verificar a biruta.

A vida tão! 
A vida tanta!
A vida nunca diminuta.

Mas segue a incompreensão da pauta
e o mistério da batuta.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

MUSK

Nem atômico
nem subatômico.

A forma de ser minúsculo
é tentar ser grande.

Grandeza é um ser
que não deriva
de tentar ser.

domingo, 5 de janeiro de 2025

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

PRESSA

Das boas coisas que me aconteceram
uma foi perder a pressa.

Não estou certo de que já tive pressa.
Talvez de crescer, quando criança.
Ou de ter idade para dirigir, beber,
ou ultrapassar incólume a apresentação ao exército,
o vestibular.

(Decerto não tive pressa de casar)

Hoje não tenho pressa alguma.
Sei que tenho a eternidade para crescer.
Mas não ter pressa não é perder tempo.
Estou ou procuro estar atento.

Não sei o que perguntaria
a Deus, se tivesse a oportunidade.
Talvez apenas ouvisse, afinal,
Ele não precisaria que eu falasse.

(Deus fala com os mudos e os tatibitates)

Será que Ele me brindaria com uma resposta espontânea?
Talvez a esteja dando suficiente na natureza.
Talvez a tenha dado bastante na palavra de seus emissários,
missionários, de seu Cristo.

A esses tenho escutado, 
e me esforçado por entendê-los.
Não tenho pressa nem deixo pra depois.
Esse processamento é o meu feijão com arroz.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

AINDA AGORA

Não é neve, é chuva.
Não é neon, são uvas.
Comem-se sem se pisarem.

O ano virou
(obrigado por avisarem)

Agora estarei atento.
Agora serei refeito.
Agora talvez esqueça
este ou aquele defeito.

Talvez agora me ligue
a esta ou àquela virtude.
E refaço o plano do empenho
em reajustar atitudes.

Algumas ideias novas,
mas as melhores de há dois mil anos
(infelizmente talvez inéditas)

Retomo o compasso.
Talvez entenda a bússola
ou descubra o astrolábio.

Agora tudo de frente,
nada de soslaio.
Agora à plenitude.
Agora a agora.

E o futuro segue sendo
matéria das próximas horas.