quinta-feira, 24 de outubro de 2024

ALMEJADO

Eu sou o que desejo
mesmo quando não pareço obtê-lo.
Essa ideia que se demora;
fica, não vai embora.
Ninguém descobre se chegou ou sempre esteve.

Quem nunca se absteve de tentar
e não tem o direito de desistir.
A ideia radica ali.
Ninguém sabe se essência, se acidente.

Você se ilude que não,
mas é bem esse tipo de pessoa. 
A ideia que não se pronuncia,
mas é sua moradora.
Ninguém sabe se inquilina ou se proprietária.

É uma ideia refratária a todo tipo de realização.
Ninguém sabe se é bênção
ou se é danação. 

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

INTERSTÍCIO

Tanto lugar no mundo,
e me caí neste eu.
Não sei se escorreguei
ou foi Deus.

Nada parece muito adequado.
Suspeito que fui acidente,
nunca planejado.

Mas sei prestar atenção
e vou aprendendo a escolher.
(Por mim, claro, não por você!)

A vida apresenta suas surpresas.
Parte parece teste, parte presente.
Parte é coisa. Parte gente.

Vou me equilibrando,
dentro do possível.
Entre a parte que me cabe
e a medida de destino. 

A isso chamo vida, ou 
Escola do Interstício.
Parece que vou terminando,
mas sei que é outro início.

domingo, 29 de setembro de 2024

QUANDO É

Foi quando a noite ventou um alívio
que o dia há muito não oferecia.
O dia sempre tão aparente,
mas que pouco se conhecia.

A noite é essa ponte larga,
disso pra qualquer outra coisa.
A madrugada é livre
porque a alma está solta.

Júpiter ainda não
(mas o tenho bem posicionado).
Algumas vezes me atrevo,
outras tantas me calo.

Mas o pensamento arrasa distâncias.
Só a afinidade sabe quanta.
E isso se reconhece,
não se engendra.

Nenhuma métrica enquadra
e nem adianta botar no poema.